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A VITTRA DE RAINFALL

  • Foto do escritor: Jéssica Banstarch
    Jéssica Banstarch
  • 21 de nov. de 2021
  • 4 min de leitura


──⊱✠⊰──

Em seus dias de glória, Rainfall era uma cidade de luz.

Perfumada com o aroma da chuva e enfeitada pela belíssima natureza que se destacava em todas as estações. No limite da cidade com a imensa floresta, havia uma torre onde a família Dover sonhava em expandir os negócios. A exportação marítima estava em constante evolução e os Dover's trariam grandes oportunidades para Rainfall. O senhor Adam Dover enxergou na floresta uma grande oportunidade de riqueza, e a partir da exploração de madeira, Rainfall viveu dias de fartura e festas.

Os Dover expandiram a área de exploração cada vez mais, e com isso se tornaram os mais ricos da cidade, mas toda essa riqueza custou algo que a família não imaginava perder, não tão cedo. A filha do casal Adam e Freya, era a alegria da cidade. Pois não havia muitas crianças por ali, devido as dificuldades que todos passavam antes da exploração da floresta, Katarina era uma das primeiras crianças que Rainfall vira após muito tempo. Katarina era muito ligada à floresta e desde pequena chorava muito todos os dias, quando os trabalhos de exploração da floresta começavam.

Quanto maior ficava mais triste ela se tornava. Seus pais já não sabiam como agradá-la, até decidirem que a tirariam de Rainfall, e a deixariam longe da floresta por alguns anos. Estava tudo pronto para sua partida, para o longínquo Novo Mundo. Porém horas antes dos empregados da família irem buscar a menina em sua torre, Katarina teve um desmaio. Inconsciente, a menina caminhou em direção aos lados sombrios e inexplorados da floresta, chegando até a área central onde por ordens do seu pai, não havia sido explorada.

Nenhum dos trabalhadores notou a presença da menina na floresta, pois a luz era pouca naquela parte densa, usava-se lampiões até que um número suficiente de arvores fosse derrubada para a luz adentrar aquela parte da floresta. Katarina ainda desacordada deitou na terra e ali ficou por muitas horas. Ficou tanto tempo que deram a menina por morta.

Num estado de meditação profunda e conexão com a floresta, a menina foi despertando, mas não mais como Katarina, a partir daquele momento ela seria a invisível criança da floresta, ou como chamavam naquela época, uma Vittra.

──⊱✠⊰──

Os Dover's por estarem muito abatidos pela literal perca da filha, partiram de Rainfall sem olhar para trás. A economia da cidade foi do céu ao inferno, e muitos se foram. Mas ainda assim havia quem tenta-se adentrar a floresta com fins gananciosos.

A floresta avançou cada dia mais os limites da cidade. Numa rapidez absurda tomou quase toda a cidade agora pouco povoada, para si. Os poucos cidadãos que ali insistiram em ficar criaram diversas lendas a respeito da floresta. Uns diziam que ali habitavam seres gigantes e poderosos, outros que era amaldiçoada pela tragédia que acometera os Dover's. Mas uma sábia senhora que a anos dizia as mesmas palavras "A floresta cresce", parecia finalmente sensata por predizer o que agora acontecia.

Agnes R. era uma senhora muito ativa mas reservada, recebia poucas visitas de sua filha, Norat, e sempre que a jovem visitava a mãe tentava levá-la para o Novo Mundo junto dela. Nem mesmo Norat sabia como ela e a mãe foram parar naquela cidade, só sabia que conhecia todos dali desde que nascera. O esposo da senhora Agnes faleceu quando Norat era adolescente e isso só fez a jovem querer sair daquele lugar cheio de lembranças que lhe causavam dor.

Agnes sempre acreditou na vida da floresta mesmo sem ter certeza do que realmente vivia ali, e silenciosamente lutava contra a exploração daquele riquíssimo lugar de paz. Quando a menina Katarina desapareceu ela secretamente levava durante a noite alimentos até a floresta, pensava que se por acaso a menina ainda estivesse por ali, poderia se alimentar, ou ainda que se alguma criatura pudesse encontrá-la, e tomasse aquele alimento como oferenda.

──⊱✠⊰──

As pessoas não conheciam muito bem, mas as Vittras são predestinadas a serem parte da floresta. Quando uma pessoa nasce para ser uma Vittra, geralmente ela faz parte de uma família humana que pouco se importa com a natureza. E como gananciosos desequilibram a ordem natural da vida, o destino se encarrega de contrabalancear.

As Vittras costumam ser ariscas, e só quando se sentem muito a vontade ficam visíveis para humanos, além disso, a parte humana dessas criaturas ainda se alimenta de comida comum, e há quem diga que as Vittras são responsaveis por pequenos furtos em seleiros e dispensas. E com a ajuda de todos os seres que viviam na floresta, a Vittra de Rainfall foi amadurecendo e controlando seus poderes. Depois de ter assombrado os trabalhadores da floresta, causando-lhes terríveis pesadelos e pregando peças até se cansar, a Vittra sentiu que já bastava.

Sua parte humana ficava muito satisfeita com os lanches que a senhora Agnes lhe trazia, e mesmo sem aparecer para a senhora bondosa, ela cuidava da segurança da mesma para que nenhum mal lhe atingisse. Afinal Agnes era sua única companhia, mesmo que secretamente.

──⊱✠⊰──

Os anos se passaram e a cidade ficou menos povoada. A senhora Agnes veio a falecer, sua filha saudosa, vinha até casa da mãe de tempos em tempos para manter tudo em ordem e durante sua estadia em Rainfall, Norat cumpria as instruções do bilhete na cabeçeira da mãe:

- Alimentar a floresta

- Cuidar do jardim

Com o tempo a Vittra se sentia solitária, e começou a aparecer para crianças curiosas, só para passar o tempo. Um dia a neta da senhora Agnes estava no meio do bando de crianças que vinham pé ante pé até a borda da floresta afim de ver algo mágico por ali. A Vittra reconheu a menina pelo cheiro, o mesmo que lhe alegrava quando a senhora Agnes estava a caminho da floresta. E quando todas as crianças desistiram da aventura e viraram para ir embora, a menina que ainda olhava para um ponto fixo entre as árvores, viu a Vittra de Rainfall, uma sombra iluminada de luz branca sorrindo para ela. Se assustou e correu para mãe, e quando contou-lhe o que avistara foi desacreditada. Norat dizia a filha que as outras crianças a tinham assustado e por isso a menina achou ter visto algo. E assim a Vittra afastou uma possível companhia, mas mal ela sabia que com o passar das décadas, ela seria uma história de ninar contada de geração em geração na família da senhora Agnes. Diziam que graças a bondade da senhora Agnes, a Vittra lhes agraciava vez ou outra com sua aparição.

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Jéssica Luana Banstarch

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